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A Ilusão do Saber na Constelação Familiar | Dunning-Kruger

Do Pico da Ignorância à Profundidade: O Efeito Dunning-Kruger na Jornada da Constelação Familiar


Você já concluiu um curso, leu um livro ou participou de um workshop e sentiu que, finalmente, dominava completamente um assunto? Essa sensação de confiança avassaladora, embora natural, pode ser um dos maiores véus que nos separam da verdadeira maestria. Isso é conhecido como Efeito Dunning-Kruger: um fenômeno no qual a falta de conhecimento nos impede de reconhecer nossa própria incompetência. No campo da Constelação Familiar, essa jornada da confiança superficial à sabedoria profunda é não apenas comum, mas essencial para uma prática ética e eficaz.

Muitos de nós começamos essa jornada com um entusiasmo contagiante. Após os primeiros módulos de um treinamento, o universo das dinâmicas sistêmicas se abre, e acreditamos ter encontrado um mapa completo para a alma humana. No entanto, o que parece ser o destino final é, na verdade, apenas o ponto de partida.



O Pico da Confiança Inicial: "Eu Já Sei Tudo"

Lembro-me bem do final dos meus primeiros módulos de formação. Parecia uma jornada imensa e, ao concluí-la, uma sensação de realização tomou conta de mim. Eu acreditava ter assimilado um corpo de conhecimento vasto e definitivo.

Contudo, com o tempo, descobri que o caminho não terminava ali; ele apenas começava. As informações mais cruciais já haviam sido apresentadas, mas minha capacidade de percebê-las em sua totalidade ainda era limitada. Eu estava no que os psicólogos chamam de "pico da ignorância confiante". Acreditava que via tudo, quando, na realidade, minha visão apenas arranhava a superfície.


Imagem de Benjamin Klammt por Pixabay
Imagem de Benjamin Klammt por Pixabay

A Revelação da Profundidade: A Jornada Além do Básico


O conhecimento sistêmico, como muitas disciplinas filosóficas e espirituais, se move do grosseiro para o sutil. Quanto mais você caminha, mais refinada se torna a sua percepção. E quanto mais sutil o fenômeno, mais difícil é percebê-lo sem um olhar treinado.

Imagine um artesão que trabalha com polimento de metais. No primeiro ano, ele olha para uma peça e vê um reflexo brilhante, considerando seu trabalho excelente. Sete anos depois, com milhares de horas de prática, seu olhar se tornou tão apurado que ele enxerga micro-riscos, nuances na reflexão da luz e pequenas imperfeições que seriam invisíveis para um leigo — e para ele mesmo, anos atrás. O que era "polimento" no primeiro ano já não se qualifica como tal no sétimo.

O mesmo acontece com a nossa percepção. Pense no espelho da sua casa. Para você, é apenas um espelho. Mas um especialista em vidros veria as distorções sutis, os defeitos de fabricação e os sinais de desgaste que escapam ao seu olhar. Você  o espelho, mas ele enxerga sua essência.




O Olhar Treinado: Vendo o que os Outros Não Veem


Essa capacidade de discernir nuances é universal entre os especialistas.

Um terapeuta dedicado percebe, no silêncio, no gesto ou no tom de voz de um cliente, dinâmicas ocultas que passariam despercebidas por um praticante menos experiente.

Cada pessoa fala e pratica a Constelação Familiar a partir do seu próprio limite de percepção. Esse limite é moldado não apenas pelo estudo, mas pela experiência vivida, pela repetição e pelo aprofundamento contínuo.




O Risco da Superficialidade na Prática Terapêutica


Recentemente, as Constelações Familiares enfrentaram muitas críticas. Ao observar esses debates, ficou claro para mim que as críticas não eram direcionadas à filosofia de Bert Hellinger em sua essência, mas sim a uma prática que, muitas vezes, é realizada de forma absurdamente rasa.

Isso não acontece por maldade ou preguiça, mas como uma consequência direta do Efeito Dunning-Kruger na Constelação. Profissionais que não tiveram o tempo necessário para maturar seu olhar, aplicam a técnica dentro de suas limitações, sem perceber a vastidão que ainda não conseguem acessar. Eles oferecem o seu melhor, mas o seu melhor ainda reside na superfície.




A Humildade do Compromisso com o Aprofundamento


A verdadeira sabedoria não nasce da certeza, mas da humildade de reconhecer o quão pouco sabemos. Tive o privilégio de acompanhar de perto a duas maiores referências em Constelação Familiar por muitos anos - Bert Hellinger e Mimansa, durante sua fase mais madura e potente. Essa imersão contínua não me tornou "melhor" que os outros, mas me deu uma dimensão de profundidade que seria impossível de alcançar de outra forma.

É como ler os livros de Bert Hellinger. A primeira leitura revela uma camada. Ler o mesmo livro cinco anos depois, com mais experiência de vida e de campo, revela um texto completamente novo, com insights que antes eram invisíveis. O livro não mudou; você mudou. Sua capacidade de perceber a sutileza foi expandida.



A Jornada Infinita do Olhar


A jornada na Constelação Familiar, e em qualquer caminho de autoconhecimento, não é só sobre acumular informações, mas sobre refinar a percepção. É um convite para abandonar a segurança do "pico da ignorância" e mergulhar no vale da humildade, onde o verdadeiro aprendizado acontece.

É preciso aprofundar o olhar, assimilar que sempre haverá mais para ver e compreender que a maestria não é um destino, mas um compromisso contínuo com a jornada em direção ao mais sutil, ao mais profundo, ao essencial.

Agora fica a pergunta: será que eu (Daniel) realmente entendi?




E você, já vivenciou esse aprofundamento em alguma área da sua vida? Como sua percepção se transformou com a experiência? Compartilhe suas reflexões nos comentários abaixo!

 
 
 

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